Quer queiramos ou não.
Podemos orar todas as contas de todos os terços, podemos frequentar todos os encontros religiosos de igrejas de todos os matizes, podemos ler a Bíblia Sagrada do começo ao fim e do fim ao começo, podemos agir com dignidade, sem dignidade, com altruísmo, sem altruísmo, com bondade ou com ódio. Podemos, podemos e podemos. E por estarmos na mesma caravela cujo capitão sempre existiu apenas na nossa imaginação de pretensos imortais, teremos a mesma trajetória e o mesmo fim. Democraticamente sem privilégios. A única coisa em que creio fortemente é que nossas existências dependem, apenas e tão somente, de algumas poucas variáveis. Talento ou falta de talento, senso de oportunidade para aproveitar as boas oportunidades que possam surgir, boa ou má genética e, por fim, e não menos importante, sorte ou azar. Não é fácil aceitar o que digo. É preciso ter a coragem de olhar a vida ao nosso redor e questionar todas as crendices que, em tempos idos, enterraram nas nossas cabeças. E aí, então, nos depararemos com perguntas irrespondíveis que nos levarão a mais e mais questionamentos. Processo doloroso assistir ao castelo de cartas da fé desmoronar diante de nossos olhos. Processo mais doloroso ainda é a compreensão de que se nós, seres viventes, não nos ajudarmos, ninguém mais nos acudirá. Processo doloroso encarar a vida sem fantasias. Eu, confesso, sinto as dores da crua realidade na qual acredito. Mas não lhes recomendo senti-las. Melhor que permaneçam anestesiados. Bem melhor.
Cid 4/09/2021
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